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INSTITUCIONAL HISTÓRIA

Angelo Spricigo


 
   No dia 24 de abril de 1915, nascia em Urussanga, na região carbonífera, no sul do Estado de Santa Catarina, Angelo Spricigo.

   Era o oitavo filho dos imigrantes italianos Giorgio e Joana Spricigo que tinham chegado ao Brasil em 1879 a bordo de um navio. Passou sua infância e adolescência como qualquer outra criança que viveu em sua época, com dificuldades para estudar, ajudando os pais nos trabalhos da casa e da roça.
   
   Com doze anos de idade, em 1928, o menino angelo passou a residir na casa de um sapateiro com a finalidade de aprender o oficio, uma preocupação que os pais tinham com os filhos na época.

   A família Spricigo mudou-se para a sede do distrito de Nova Veneza, no município de Criciúma. Com a idade de dezenove anos, conheceu e se apaixonou por Maria de Oliveira, filha de Francisca Alegre, de descendência italiana e Julio de Oliveira, descendente de portugueses, residentes em Tubarão, cidade catarinense onde Maria nasceu em 20 de julho de 1912. Quando conheceu Angelo ela lecionava como professora no curso primário em Nova Veneza.

   Em 29 de julho de 1935, na Igreja Católica Cartório do Registro Civil de Nova Veneza, Comarca de Araranguá, uniram-se pelos laços do matrimônio.

   Angelo, adotou a profissão de sapateiro, abrindo uma pequena sapataria e tendo que trabalhar muito para poder dar o sustento a família, uma vez que, depois de casado, deixara a casa dos pais e formou seu próprio lar, junto com a esposa.

   No ano de 1936, o lar de Angelo e Maria aumentou com o nascimento do primeiro filho. Nos dois anos seguintes nasceram mais duas filhas.

   Em 1941, depois de ter feito na sede do município, um curso de preparação para melhor exercer o magistério, Dona Maria vendo a dificuldade de trabalhar e criar os filhos deixou de lecionar. Foi quando Angelo tomou a resolução de se transferir para Sangão, localidade que distava apenas 9 km de Criciúma. Em uma casa que adquiriu, alem de instalar uma pequena oficina para concerto e fabricação de sapatos passou a residir e ainda alugou parte da mesma, uma vez que a área construída era grande. Nesta localidade nasceram mais três filhos.

   Por esta época os pais e irmãos de Angelo, transferiram a residência para o município de Concórdia, na localidade de Bervedore, distrito de Engano atualmente Serrinha, no município de Ipumirim.

   Em 1944 Angelo Spricigo veio visitar os seus familiares e conheceu a cidade de Concórdia. Ficou maravilhado com o lugar em que percebeu muito progresso e crescimento. Regressando a Sagão resolveu, juntamente com a família, vir se estabelecer na terra que acabava de inaugurar o frigorífico SADIA, para abate de suínos, e já havia um moinho de cereais em pleno funcionamento.

   No ano de 1945, por intermédio de seus familiares, com quem mantivera contato, fretou um caminhão, de propriedade do senhor Antonio Baratto, que foi a Sagão buscar a mudança e a família de Angelo Spricigo.

   Pouco tempo depois de chegar adquiriu um terreno com uma casa de madeira, à Rua do Comércio, esquina com a Mal. Floriano Peixoto, atual Rua Romano Ancelmo Fontana. Nesta casa passou a residir e continuou na profissão que já exercia, de sapateiro, trabalhando neste mister por mais alguns anos. Também trabalhou como vendedor ambulante de ternos e rádios.

   Em Concórdia nasceram mais três filhos que, com os seis nascidos no município de Criciuma, totalizaram nove. Os filhos de Angelo e Dona Maria são: -Leonides, comerciante, casado com Ivani, tem 2 filhos e 2 netos, residem em Concórdia; -Eni, casada com Jaci Giotto, tem 3 filhos e 2 netos, residem em Concórdia; Ilsa, casada com José Sabem, tem 3 filhos e 4 netos, residem em Concórdia; -Antonio, primeiro filho nascido na localidade de sagão, faleceu com poucos dias; - José, engenheiro civil,casado com Maria Adilis, tem 3 filhos e 2 netos, residem em Florianópolis; -Evaldo, veterinário e, mais tarde, formou-se em direito, exercendo a profissão de advogado na cidade de Caxias do Sul, RS, onde reside com sua esposa Miriam e 3 filhos; -Aldo, engenheiro mecânico, casado com Juni, tem 3 filhos e residem em Chapecó, SC; -Paulo Valentim, era solteiro e faleceu jovem; - Renato, engenheiro mecânico casado com Jussara, tem 2 filhas e residem em Florianópolis, SC. O casal Spricigo teve 19 netos e 10 bisnetos.

   Em 1951, Angelo Spricigo deixou de trabalhar como sapateiro e passou a se interessar por construção, adotando a profissão de pedreiro. Adquiriu um terreno no Largo Rio Branco e, no ano seguinte, construiu um prédio em alvenaria de dois pavimentos, onde atualmente funciona a Ótica Precisão. Mas tarde esta propriedade foi vendida para terceiros.

Em 1954 construiu um prédio de dois pavimentos na Rua do Comércio, tendo sido o andar térreo alugado para o Banco Nacional do Comércio; em 14 de fevereiro de 1955, foi inaugurada a agência deste banco gaucho, com sede em Porto Alegre. No pavimento superior Spricigo alugava um amplo apartamento. Atualmente, no andar térreo deste prédio, reformado, foi feita uma galeria para dar acesso ao andar superior e dividindo duas salas comerciais, numa delas está instalada a Agência de Correios Franqueada Estrela.

   Em 1956 construiu o primeiro edifício de quatro pavimentos, em Concórdia, na esquina da Rua Anita Garibaldi com a Travessa do Patriarca, atual Travessa João Brunetto, juntos ao largo Rio Branco. No andar térreo deste prédio, em 31 de janeiro de 1959, foi instalada a Agência do Banco do Brasil, que funcionou até se mudar para o prédio próprio, na Rua do Comércio esquina com a Vidal Ramos, hoje Atalípio Magarinos, onde atualmente ainda está localizada. O prédio era conhecido, pela maioria dos que residiam em Concórdia, por “balança mas não cai”, plagiando um programa de rádio da época. Os proprietários dos apartamentos dos três andares superiores formavam um condomínio. O pavimento térreo foi comprado pela família Crippa, que o alugou para a Equiplan, funcionando com loja e gráfica, por alguns anos, quando então, o proprietário instalou uma loja comercial, o Empório Phinna.

   Quatro anos mais tarde, em 1960, Angelo Spricigo construiu outro prédio de quatro pavimentos, localizados à Rua do Comércio onde funcionou por dezoito anos o Banco Sul Brasileiro, sucessor de Banco Nacional do Comercio, que se transferiu para prédio próprio, no Largo Rio Branco, deixando disponível o local onde estava instalado passando a funcionar firmas comerciais, atualmente, está alugada para a firma Zanoello com loja de venda de móveis e, os andares superiores, os apartamentos também estão alugados.

   Neste mesmo ano, Angelo adquiriu um terreno à Rua Vidal Ramos, Atual Rua Atálípio Magarinos. Construiu um Prédio em alvenaria que vendeu para o senhor Arnildo Rotta. Está localizado na margem esquerda do Lajeado dos queimados, fazendo divisa com a propriedade da Magavel-Revendedores Ford.

   Em 1965, solicitado pelo Vigário Frei Câncio Berri e pelo Conselho Paroquial da Igreja Nossa Senhora do Rosário, no sentido de colaborar com a comunidade católica, construiu o Santuário de Nossa Senhora da Salete, no Bairro Salete, sob a orientação do autor do projeto, Frei Bruno Funks.

   Em 1966 iniciou um prédio, à Rua do Comércio, cuja edificação foi projetada com uma passagem, para distribuição das diversas salas comerciais, no pavimento térreo, recebendo o nome de Galeria Dom Pita. A Galeria une, através de escadas, o andar superior, onde está instalado o Hotel Dom Pita o primeiro em Concórdia a dispor de apartamentos. Igualmente, pela galeria, chega-se ao subsolo e ao pátio com a localização das garagens anexas ao prédio, com passagem, por uma viela, fazendo a ligação com a Rua Getúlio Vargas. A construção foi concluída em dois anos, tendo sido inaugurada no ano de 1968. Já em 1971, Spricigo adicionou mais um bloco ao prédio, dobrando o número de apartamentos do hotel, com a construção de mais um pavimento.

   Em 1969 construiu o Prédio à Rua do Comércio onde funciona a Confeitaria e Padaria Bokitos, no andar térreo, construiu diversos apartamentos para serem alugados.

   Para a construção de todos esses edifícios, Angelo Spricigo contratava operários que trabalhavam sob sua orientação, pois era o mestre-de-obra, ao mesmo tempo em que trabalhava de pedreiro, carpinteiro, armador de ferragens e quando era preciso executava serviços de servente de pedreiro ou ajudante de obra.

  No ano de 1972, Angelo Spricigo começou a ter problemas muito sérios de visão.

   Procurando médicos especialistas, constatou que estava com problemas de saúde e foi aconselhado, pelos mesmos, a parar de trabalhar. Aposentou-se e por três anos seguidos fez o tratamento indicado.

   Não podendo fazer o que mais gostava de fazer, que era trabalhar, comprou um violão e foi se encontrar com os amigos, na praça Dogelo Goss, e, em companhia dos mesmos, cantava canções que aprendera com os pais na juventude.

   Desde muito jovem se dedicou à música. Violino, teclado, órgão, e principalmente violão são instrumentos tocados por Angelo Spricigo. E esses instrumentos ele aprendeu a tocar sem nunca ter tido um professor que lhe ensinasse. Sempre gostou muito de cantar. Foi gerente do Coral Santa Cecília de 1959 a 1965. Na música, seu maior destaque foi a canção “Nostra Concórdia”, cuja letra e música, foi por ele composta, mostrando o amor que tem por esta terra e pela arte do canto.

   Passados alguns anos, a saúde melhorou parcialmente, voltou a trabalhar na conservação dos seus imóveis.

   Angelo Spricigo não só trabalhou para si, mas sempre foi dedicado ao trabalho para o progresso da terra que o adotou.

   Chegando a terceira idade, voltou para os seus amigos, com quem cantava na praça e juntos fundaram o Clube dos Veteranos conforme uma lista de presença assinada por vinte idosos, com idade média de 70 anos, no dia 22 de janeiro de 1983, registrada no livro de atas do Clube. Encontravam-se em determinados dias, num quiosque, construído pela Prefeitura, no Parque Infantil. O grupo de idosos, liderados por Spricigo, aumentou muito e o local de encontro foi ficando pequeno para abrigar todos os veteranos que compareciam aos encontros. Então lhe surgiu uma idéia, que parecia mais com um sonho, construir uma sede própria para o clube.

   Em 10 de janeiro de 1988, adquiriu um terreno à Rua Leonel Mosele e comunicou aos amigos que ali, neste local, iriam erguer um prédio que seria a sede do Clube dos Veteranos. Na oportunidade, muitos não acreditaram, mas Angelo foi em frente.

   Em 15 de outubro de 1988, foi dado inicio a obra, com muito esforço, trabalho, força e principalmente muita confiança, pois todos podiam ver que o sonho de Angelo estava se tornando uma realidade. Em janeiro de 1990 foi inaugurada a sede do Clube dos Veteranos de Concórdia. Desde a inauguração e fundação do clube ele é o Presidente.

   Hoje no clube alem da freqüência diária dos veteranos que procuram a sede para passar algumas horas de lazer, todos finais de semana reúnem-se famílias de idosos associados e mesmo visitantes, homem e mulheres, que se reúnem para fazerem refeições e passarem horas agradáveis, dançando e cantando.

   Mas Angelo não só tratou de construir prédios e se preocupar com os amigos e principalmente de trabalhar muito. Ele deu muita atenção a sua família. Acompanhou com muito interesse o estudo dos filhos, pois pensava em dar a eles, aquilo que infelizmente não teve na infância, pela falta de condições e por não existirem escolas com curso ginasial, colégios de ciclo superior e muito menos faculdades, na época, em que residia no município de Criciúma.

   Desde sua chegada a Concórdia, Spricigo procurou se entrosar na comunidade. Foi associado ao Clube Aliança até o ano de 1966, quando este clube foi sucedido pelo Clube 29 de Julho, tornando-se um dos fundadores e sócios deste clube. Também é associado ao Clube dos Motoristas. Gostava de dançar nos bailes dos clubes, nas comunidades do interior do município, onde participava juntamente com sua esposa.

   Angelo e Dona Maria, católicos praticantes freqüentavam as cerimônias da Igreja Católica todos os domingos e encaminharam os filhos neste sentido. Na construção da Nova Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, colaboraram com doações e a participação nas festas promovidas pela Paróquia.

   Spricigo foi homenageado pelo Rotary Clube de Concórdia com o título de “Amigo desta Terra” e em 1984 foi agraciado pelo Poder Legislativo de Concórdia com a Comenda do Mérito Cinqüentenário.

   No ano de 1997, Angelo Spricigo e seus filhos passaram por momentos muito tristes com o falecimento de Dona Maria, que em vida sempre foi uma grande companheira e carinhosa mãe.

    Com o falecimento da esposa, Angelo Spricigo apegou-se as duas máquinas de costura que eram dela. Desmontou e revisou, adquirindo então um amor intenso pelas máquinas de costura. Em pouco tempo tinha inúmeras máquinas as quais organizou em prateleiras no porão de sua casa. As doações aumentaram e Angelo Spricigo já dizia que queria ter as peças expostas em um museu para que as pessoas viessem visitar e conhecer sobre a história da máquina e dos povos que a utilizaram. Todos os dias o colecionador ia até a oficina para trabalhar nas suas máquinas de costura, as quais ele considerava como filhas. Conversava com as peças e para algumas costumava pedir por que ela não queria funcionar?

    No dia 19/04/2013, Angelo Spricigo tinha 98 anos, inaugurou o seu Museu com 874 máquinas de costura. No ano seguinte, 2014, recebeu do RankBrasil o certificado da MAIOR COLEÇÃO DE MÁQUINAS DE COSTURA DO BRASIL. No dia da entrega do prêmio, o acervo já contava com 1080 máquinas de costura.
 
    Em 2015 Angelo Spricigo comemorou 100 anos de idade. Uma grande festa foi organizada para o seu centenário.

    Angelo Spricigo viveu mais cinco anos e faleceu no dia 23/08/2020 com 105 anos de idade. Muitos dos seus sonhos se realizaram. Em toda sua vida sempre se manteve o mesmo, disposto, alegre, cantando pelas ruas e cumprimentando a todos e enfrentando a vida conforme suas condições permitiam. Sempre sentiu-se um homem de espírito jovem e com ânimo para viver os anos que lhe foram reservados. Angelo Spricigo sempre tinha muitas histórias para contar. Histórias de sofrimentos, de lutas, dos trabalhos, das realizações, das conquistas. Histórias que marcaram muitas vidas e sonhos que sempre tentou tornar realidade, uma vida de muitas conquistas e ensinamentos.

 

 
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